Repartidores de carga: a escolha do nó aselha em expansão
O caso típico de um nó que, depois de cair em desuso, é reabilitado!
Tradução do texto Répartiteurs de charges: le choix du noeud de plein poing publicado pelo SSF em 4 de junho de 2004 realizada por Rodrigo Severo
As idas e vindas de um nó
Em espeleo, o nó aselha (imagem 1), também conhecido como nó simples, foi bastante usado, em parte por sua facilidade de execução, até que foi literalmente abolido após a publicação, em 1981, da segunda edição de manual Técnicas de Espeleologia Alpina onde foi apresentado como menos resistente que o nó oito. De fato, em uma configuração clássica de ancoragem em poços, ele reduz 5% a mais a resistência da corda quando comparado com o nó oito em testes de tração até ruptura.
Aos poucos, e sem testes prévios, o nó aselha reapareceu usado em longes. Seu volume reduzido em relação ao nó oito, o que reduz sua abrasão, assim como a facilidade e rapidez com que é realizado resgataram sua popularidade, apesar dos famosos 5%. É importante lembrar que o uso em longes nos mantém bastante abaixo dos valores de ruptura das cordas dinâmicas! Depois foram os praticantes de canionismo (imagem 2), seus guias e até mesmo a Escola Nacional de Ski e Alpinismo da França (ENSA — Ecóle Nationale de Ski et d’Alpinisme) que o reabilitaram. Neste caso particular, o objetivo é unir duas cordas para transpor cachoeiras. O nó pode inclusive servir de trava na ancoragem, caso se pretenda descer por uma só corda. Ao final da manobra, pode-se recuperar a corda puxando-a de baixo. Nestas situações o nó trabalha em expansão, com as duas extremidades sendo tracionadas em um ângulo de 180°.
No canionismo, pode-se observar que, apesar de ser um nó compacto, é adequado como nó de parada em muitas situações. Além disso, é o nó que oferece o melhor deslizamento por paredes graças a sua tendência de girar lateralmente sobre si mesmo, voltando sua face mais lisa à parede. Este fator reduz consideravelmente as possibilidades de ficar enganchado em protuberâncias, o que resulta em uma vantagem apreciável durante a recuperação de cordas.
Por fim, o nó aselha é fácil de ser feito e também desfeito pois, por trabalhar em expansão, não se trava excessivamente.
Alguns testes de tração nesta configuração de uso em expansão realizadas pela ENSA em 1998 com cordas de 10 mm confirmaram essas constatações. Mostraram que o nó se torce sobre si mesmo ao atingir-se cerca de 400 daN quando a corda mais exigida se sobrepõe sobre a outra liberando muito pouca corda nesse processo. O nó se bloqueia na nova configuração, o que evita completamente o risco de se desfazer pela liberação progressiva de suas cordas. E somente a valores bastante altos, por volta de 1200 daN que a corda, por fim, se rompe, exatamente sobre o nó, como era de se esperar.
Os repartidores de carga em resgate
No Espeleo Socorro Francês (SSF — Spéléo Secours Français), nós buscamos por longo tempo por um nó eficaz para o fechamento de repartidores de carga.
O nó de pescador duplo e o nó oito costurado, que eram indicados até então, apresentam diversos inconvenientes:
- é difícil controlar sua posição final com precisão;
- são difíceis de montar nas cordas usadas atualmente como repartidores de carga de 10 mm, ainda mais quando estão frouxas;
- é difícil pretensioná-los manualmente (por exemplo nas tirolesas, onde se busca a maior tensão possível);
- é bastante difícil desfazê-los após terem sido fortemente tensionados.
Ao adotar o nó aselha (imagem 3) em expansão, como usado pelos canionistas, estes problemas são evitados:
- é fácil desfazê-lo, inclusive porque as solicitações sobre o nó são modestas, dados que o esforço é distribuído entre as diversas pernas de corda do repartidor;
- é fácil ajustar com precisão o comprimento do repartidor;
- ele pode ser facilmente tensionado à mão e libera pouca folga ao ser submetido a tensão final, o que otimiza a tensão das tirolesas;
- sua resistência, na casa dos 1200 daN para este tipo de configuração, nos oferece uma margem de segurança suficiente. De fato, nos diversos testes de ruptura de ancoragem realizados pelo SSF em repartidores entre 1994 e 1996, a tensão máxima mensurada jamais superou os 575 daN em um ponto de medição. É importante destacar que o nó trabalha somente sobre uma das pernas solicitadas, exceto, é claro, no caso de uma montagem defeituosa que pode resultar no nó trabalhando travado em um dos pontos de ancoragem.
Após três cursos do SSF e uma grande operação de resgate onde o nó aselha foi sistematicamente utilizado nos repartidores de carga, nenhum problema foi constatado.
A única precaução a observar é que as pontas livres da corda além do nó tenham, no mínimo, 15 cm de comprimento após ter sido pré-tensionado manualmente.